Hoje mais cedo fui visitar a minha vó e a velhinha começou a criticar meu cabelo apenas por ele ser estilo black power cachos furacão 2000. A conversa foi ficando tensa à medida que ela cogitava a possibilidade de que a juba fosse cortada, afinal esse assunto se tornou um tabu ao longo dos meus 21 anos, #carecanão. Após a conversa fiquei pensando e tentando entender porque isso é um trauma tão grande, gostaria realmente de entender a razão de, diferentemente da minha namorada, que fica linda com todos os cortes e tamanhos de cabelo, cortar a crina pra mim e pra maioria dos homens causa a sensação de que sofremos um acidente sério na cara e não temos mais capacidade de raciocínio. A hipótese mais provável é de que, como os caras geralmente têm um preconceito idiota com salões, acabam cortando o cabelo em barbeiros baratos, de preferência o que só tem uma máquina de cortar, pra mostrar todo seu potencial pateta. Pra você entender a humilhação dos moleques, a rapaziada ajeitava o calendário pra cortar o cabelo junto, e assim todos iam deprimidos e unidos encarar as brincadeiras
Lembrei agora que em uma dessas conferências pra decidir a data do próximo corte de cabelo dos meninos da sétima série, algum meliante mesquinho veio contar feliz e contente que havia descoberto um salão que cobrava cinco reais o corte, CINCO REAIS e o nome do lugar era FALCÃO (ou Fenix, sei lá). Resumidamente foi o seguinte: o lugar era minúsculo e praticamente escondido em um buraco na lateral de uma rua, o barbeiro deveria ter uns 92 anos e as mãos dele tremiam. Não pude fraquejar na frente dos outros ranhentos e cortei o cabelo… Aquele senhor me causou um bullyng federal na escola no outro dia, além é claro de deixar um pedaço da minha cabeça muito maior que a outra – e ainda gastei mais dinheiro no dia seguinte em outra barbearia arrumando a merda que ele fez.
Gostaria de relembrar aqui alguns momentos da minha vida em relação a cortar o cabelo e tudo que eu penso(ava) sobre isso. 07 anos: Não faço a mínima ideia de como meu cabelo era cortado, aliás, de pouca coisa da vida. Mas devia ser algo tipo assim: 8~12 anos: Aproximadamente por essas idades, eu ia com minha mãe cortar o cabelo e ela passava todas as instruções para o executor, para depois ficar lendo uma revista como se nada estivesse acontecendo, enquanto um lunático passava a tesoura na minha cara. Nesse tempo a minha destemida aversão aos carrascos dos cabelos provavelmente começou, foram tempos difíceis passados nas barbearias/calabouços.
13~18 anos: Foi aí que o mal floresceu e eu vi que cortar o cabelo só me causava constrangimento e cara de panaca, mas não tinha outra escolha. Nessa época, se eu deixasse o cabelo crescer, ele começaria a ascender em uma torre vertical dura e impermeável – nada legal. Eu ia onde era mais barato e pedia pro cara:
“CORTA BAIXINHO, MAS NEM TANTO. MAS TAMBÉM NÃO DEIXA MUITO.” Aí já viu né.
Foi nessa época que, quando o processo de amputação terminava, eu olhava pro espelho e pensava: “véi, sou feião”.
19~21 anos: Salvação, Glória, Hosana nas alturas. Marina, patroa, entra na minha vida e dá um basta à escravidão capilar que eu provoquei ao longo da minha vida. Me ensinou a existência de poções, como o tal do SHAMPOO e o CONDICIONADOR. Algo também sobre pentear, mas sou um mero aprendiz ainda. Vivenciei também o espetáculo de cortar o cabelo em um salão de beleza com um cara que devia ser Russo e, apesar de ser careca, foi o primeiro que não me fez chorar ao me olhar no espelho no final do procedimento cirúrgico. Existe esperança…
Todo mundo fala que temos que compartilhar nossos medos para conseguirmos superá-los não é? Mesmo que isso signifique escrevê-los em um blog no wordpress sem público? CLARO QUE SIM! Aliás, talvez eu corte o cabelo esse final de semana.
FREE BELOLOCO
Careca nãoo!